14.5.10

Poesia Visual #02

O experimentalismo tipográfico frequentemente associado à ideia de vanguarda, tem uma função bem delineada na procura e na construção do novo. Na prática da poesia visual há que ter em consideração o relacionamento interdisciplinar com as outras formas de articulação da palavra e da imagem. Melo e Castro (1988) refere uma “rede intersemiótica (entre a produção verbal e não-verbal), como se de uma intrincada rede de traduções e equivalências se tratasse.”

Com as práticas neo-vanguardistas do pós-guerra, como a poesia visual, concreta ou experimental, assistiu-se à introdução de inovações significativas no domínio literário. A poesia concreta procurou, desde o início, reestruturar a linguagem da poesia da época, promovendo uma utilização de linguagem simplificada, condensada e principalmente autónoma. «No plano estético, além da grande evidente diferença entre ambas (a presença da imagem visual na poesia visiva, enquanto a poesia concreta se dá dentro dos limites da verbalidade) é tambem facilmente observavel a distinçãoo no âmbito da construção formal. Enquanto a poesia concreta se funda numa contrução racional e medida que fazia interagir formalmente as palavras doo poema, a poesia visiva se pauta pela caoticidades da armação, numa proposital fórmula desestrutural, que se choca frontalmente com a ídole construtiva do poema concreto» (Menezes, 1994: 206)Segundo Pedro Reis (Reis, 1998: 34) a poesia concreta surge “sem quaisquer marcas personalizadas da presença do autor” no texto, um poema/objecto industrial que se projecta em e por si mesmo, não interpretando objectos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjectivas, procurando comunicar a materialidade. Caracterizar-se por um conjunto interactivo de diversos códigos, onde cada leitor faz a sua própria leitura, a poesia concreta revelou-se uma produção aberta, de modo poético e abrangente, na qual a elaboração de sentidos se realiza pela acção de diversas componentes, sendo por isso importante destacar a sua natureza semiótica generalizada. Integra elementos da poesia como o material linguístico; das artes plásticas como as formas, a disposição espacial, o ponto, a linha e a cor; da música; do cinema como o ritmo visual, repetições, sucessões; ou ainda da tipografia, da publicidade ou do jornalismo.

«A Poesia Concreta não é apenas mais um movimento de vanguarda. Em vez disso penso que foi a chegada a um ponto de vista radical em relação a toda a poesia moderna. Tão radical que pode até pôr-se em questão se a Poesia Concreta pertence mesmo à literatura, uma vez que ela representa uma crítica inventiva de todas as dimensões da escrita literária.» (Castro, 2006: 156)

Os poetas concretistas adoptaram uma atitude criativa, livre e aberta à experimentação. Afirmavam-se contra os padrões literários que dominavam e revelavam necessidades de inovação que abrangiam duas faces distintas, uma desmontagem do discurso literário convencional e um novo construtivismo discursivo, principalmente através do poder da comunicação visual. Esteticamente, os poemas concretos são diferentes dos tradicionais, provocando no leitor, que também é o espectador, alguma estranheza. Este movimento artístico chegou a Portugal através do experimentalismo e a partir dos anos 1960 teve como representantes na sua teorização e criação Ana Haterly, Ernesto Manuel de Melo e Castro, Souza-Cardoso e M. S. Lourenço.