27.8.10

Artes tecnológicas/ estéticas tecnológicas: estágios de imagem

"Portanto, a estética, que estou chamando de tecnológica, está voltada para o potencial que os dispositivos tecnológicos apresentam para a criação de efeitos estéticos, quer dizer, efeitos capazes de acionar a rede de percepções sensíveis do receptor, regenerando e tornando mais sutil seu poder de apreensão das qualidades daquilo que se apresenta aos sentidos."

Lucia Santaella prefere a utilização da expresão "estéticas tecnológicas" em vez de "artes tecnológicas". A primeira, levaria a “discutir questões que se enquadram mais propriamente dentro do campo das artes”, não como no segundo termo, que levam a discussões relacionadas com “as condições propiciadas pelos aparelhos, dispositivos e suportes tecnológicos que, desde a invenção da fotografia até os hibridismos permitidos pelo ciberespaço e pelas invenções tecno-científicas contemporâneas, de modo cada vez maisvertiginoso, vêm ampliando e transformando as bases materiais e os potenciais dos modos deprodução estéticos.”

"estéticas tecnológicas não se localizam necessariamente em objetos ou processos considerados artísticos, nem precisam aparecer em lugares de exposição ou circulação de arte (…) estéticas tecnológicas podem se fazer presentes em publicidades, designs de hipermídia, vinhetas de televisão, filmes documentários, efeitos especiais no cinema, nas novas formas híbridas das imagens em movimento, na moda, nas sonoridades circundantes e, especialmente, nas infinidades de portais, sites, blogs, de que o ciberespaço está povoado ou ainda nas telinhas de um celular que nos seduz com seus ícones animados e sons, com o acabamento de sua forma e superfície, com a sutileza dos seus minúsculos botões."

Neste ensaio Lucia Santaella faz referência aos "estágios evolutivos das imagens tecnológicas", referindo-se e citando Peter Weibel, no seu artigo sobre "O mundo como interface", inserido em Electronic Culture, editado por T. Druckrey (1996). Peter Weibel estabeleceu oito estágios evolutivos no processo de produção de imagens com meios tecnológicos.

"esses oito estágios não se limitam à imagem, mas vão além dela, expandindo-se para outros potenciais abertos às estéticas tecnológicas não necessariamente visuais. O indiscutível domínio da imagem deve-se ao fato de que a revolução tecnológica tem colocado um enorme aparato à serviço da visão de modo que não se pode negar que o século XX foi o século do triunfo da tecnovisão."

Esses estágios são:

1- Transmissão de imagens e palavras utilizando meios como o telegrafo, telefone, telecopiadora (precursora da televisão de Nipkow, em 1884) ou o telescópio. Todos estes elementos contribuíram para o desenvolvimentos de sistemas tecnológicos.
"A invenção da fotografia com a automatização que ela trouxe para a produção da imagem foi contemporânea da transmissão de imagens e palavras em longa distância"

2- As ondas electromagnéticas
"a descoberta das ondas eletromagnéticas (Maxwell em 1873, Hertz em 1887) significou o nascimento de novos mundos visuais, prenunciando o advento da cultura telemática."

3- A descoberta da fotografia
"a forma espacial da imagem, como na pintura e na foto, foi seguida por sua forma temporal como no filme. De um meio espacial, a imagem se transformou em um meio temporal."

4- A evolução da televisão
"A descoberta do eletron e do tubo de raio catódico, ambos em 1879, estabeleceu as condições básicas para a produção e transferência de imagens eletrônicas, o que levou à televisão."

5- A gravação de imagens
"A gravação magnética de sinais visuais, em 1951, que havia sido antecipada pela gravação de sinais sonoros, no início do século XX, combinou o filme, o rádio e a televisão em um novo meio, o vídeo."

6- A produção de imagens geradas em computador, abriram portas para os “mundos visuais interactivos controlados pela máquina”, trazendo com eles a virtualidade.
"A tecnologia dos transistores, dos circuitos integrados, dos chips e dos semicondutores revolucionou a tecnologia de processamento de dados em meados do século XX, levando à produção de imagens completamente geradas em computadores."

7- As redes digitais televirtuais, com seus espaços de dados imateriais, introduziram a telerobótica e a telepresença.
"O passo seguinte na evolução acelerada das máquinas semióticas foi dado pela tecnologia das telecomunicações interativas."

8- Os interfaces multi-sensórias e o neuro-chip
"O último estágio, prognosticado por Weibel, dando prosseguimento às interfaces multi-sensórias, é aquele das tecnologias sensórias avançadas que, por meio de neuro-chips e chips cerebrais, deverão ligar o cérebro ao reino digital tão diretamente quanto possível."

Inevitavelmente, faz referência a Manovich quando em 2006 utilizou o termo de “hibridização visual” da linguagem das imagens em movimento. Até aos anos 90 as imagens que surgiam pelo meio do computador eram tratadas de maneira quase discriminada. No final da década, o computador transformou-se num "laboratório experimental no qual diferentes mídias podem se encontrar e suas técnicas e estéticas podem se combinar na geração de novas espécies sígnicas."

"Quando uma mídia é simulada no computador, propriedades e métodos de trabalho lhe são adicionados até o ponto de transformar a identidade dessa mídia. Isso acontece porque os softwares, como as espécies em uma ecologia comum -- neste caso, o ambiente computacional mpartilhado -- uma vez liberados, começam a interagir, mutar e gerar híbridos."

Depois do surgimento do computador “a modularização cultural opera em um nível estrutural”. As imagens surgem em pixels, desenhos vectoriais, o hipertexto substitui o texto. O HTML vulgariza-se, fazendo parte das linguagens mais usadas em termos de programação.


Santaella, Lucia, As imagens no contexto das estéticas tecnológicas
http://www.arte.unb.br/6art/textos/lucia.pdf, acedido a 29/03/2010