12.4.10

As vanguardas #02

O surrealismo foi o primeiro movimento a tentar formular, teórica e prática, uma estrutura anti-estética, não se limitando como o Dadaísmo, à negação, à revolta ou à recusa. Tentou desde sempre assumir uma postura projectual e conceptual, fundamentada diversas vezes em revistas como a “La Rèvolution Surrèaliste”, a “La Surealisme au service de la Revolution” ou a “VVV”.

André Breton permanece, mesmo depois da sua morte, como o autor mais importante e decisivo, relacionado com o surrealismo, durante quase todo o século XX. Em 1919 escreveu com a colaboração com o poeta Soupault, o primeiro texto surrealista “Les Champs Magnetiques”. A leitura de Freud e Lautréamont foram decisivas, orientando-o para as primeiras experiências do sono hipnótico, experiências essas fundadoras da pesquisa surrealista. A exploração do inconsciente e a conquista de uma nova linguagem criam um novo caminho para a poesia. O sonho e a escrita automática tornam-se os meios de aceder a um surreal liberto da lógica causal. Com influência do poeta simbolista Paul Valéry, deixou-se seduzir pelo Simbolismo que abandona por volta de 1920 envolvendo-se com o Dadaísmo.

No “Premier Manifeste du Surrealisme”, publicado em 1924, onde André Breton define pela primeira vez o movimento, a poesia surge como único meio onde o Homem pode combater as forças que o oprimem, tanto sociais, como económicas, filosóficas ou religiosas. André Breton publicou em 1924, o primeiro Manifesto Surrealista, onde se pode ler:

«O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com o seu destino, a custo repara nos objectos de seu uso habitual e que lhe vieram por sua displicência, ou quase sempre por seu esforço, pois ele aceitou trabalhar, ou pelo menos, não lhe repugnou tomar essa decisão [...] Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoares. Só o que me exalta ainda, é uma única palavra. Liberdade. Eu considero-a apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano. [...] Todos sabem, com efeito, que os loucos não devem o seu internamento senão a um reduzido número de actos legalmente repreensíveis e que se não houvesse estes actos, a sua liberdade [ou o que se vê da sua liberdade] não poderia ser ameaçada. Que eles sejam, numa certa medida, vítimas da sua imaginação, concordo com isso, no sentido de que ela os impele à inobservância de certas regras, fora das quais o género se sente visado, o que cada um é pago para saber. [...] Não será o medo da loucura, que nos vai obrigar a colocar a meia-haste, a bandeira da Imaginação!», André Breton, “O manifesto do Surrealismo”, 1924.

“Nadja”, obra de André Breton datada de 1928, marca a etapa no movimento surrealista da procura do “acaso objectivo” sob a forma de um percurso psíquico inconsciente é reveladora de uma actividade fantástica do espírito: o insólito da realidade quotidiana apreendido com um novo olhar. Em 1927, André Breton aderiu ao Partido Comunista Francês. A publicação em 1935 de “Position Politique du Surrealisme” marcou a ruptura com os comunistas. Depois da proibição da publicação da sua “Anthologie de l’humour noir” em 1940, deixou a França e partiu para os Estados Unidos, voltando mais tarde a Paris para organizar duas exposições internacionais do Surrealismo, uma em 1947 e outra em 1965.

O surrealismo evolui em duas direcções diferentes a da “Fantasia Pura” e a da “Reconstrução Poética”. Esta distinção irá dar origem ao aparecimento de dois tipos de surrealismo o “Figurativo”, com Marc Chagall, Salvador Dali, René Magritte, destruíam os temas convencionais da pintura mas preservavam um certo figurativismo e o “Abstracto”, com Yves Tanguy e Joan Miró aproximavam-se das pinturas metafísicas. Social e politicamente, pretendeu primeiramente, desempenhar um papel interventivo e empenhado na sociedade da época, tendo abordado alguns temas controversos, como o erotismo, a perversão, o poder e a religião, com objectivo de escandalizar a burguesia.

No campo da pintura, as primeiras exposições realizaram-se entre 1925 e 1928, numa galeria especialmente dedicada a este movimento. Os surrealistas introduzem fragmentos fotográficos, pintam sobre velhos painéis, praticam colagens, usam catálogos de lojas, tudo, mesmo a maior banalidade do quotidiano, como forma de expandir a sua originalidade. Joan Miró usou sinais cuja abstracção se acentuou e se exprimiu por associações de símbolos que nascem do seu imaginário. Salvador Dali define o processo espontâneo de conhecimento irracional baseado na associação interpretativa e crítica dos fenómenos delirantes. Pensa que se devem aplicar à arte os mecanismos que os paranóicos usam nos os seus delírios, como a alusão a desejos reprimidos ou o recurso a resíduos do passado capazes de revelar aspectos desconcertantes.

“Transformar o mundo, mudar a vida, refazer todas as peças do entendimento humano” é em resumo da ideia surrealista que teve a sua maior expansão no final da década de 60. O surrealismo recebeu três características muito determinantes de herança do Dadaísmo, uma herança de massa critica, uma experiência de revolta e de inconformismo e uma revolta poética internacional contra todas as formas de nacionalismo.