12.4.10

As vanguardas #03 - Escrita automática

A escrita automática é resultado da inspiração do próprio momento, sem qualquer tipo de preparação prévia nem esquema de trabalho previsto. Assume-se com características imediatas, espontâneas e incontroladas. Tanto se pode aplicar a expressão ao tipo de discurso produzido por indivíduos em estado de alucinação ou sob hipnose como para um certo tipo de escrita desconcertada que os Dadaístas e Surrealistas praticaram no inicio do século. Trata-se de um método de produção artística que prioriza o subconsciente sobre o consciente. Esse método foi bastante desenvolvido com as vanguardas artísticas, principalmente através dos Surrealistas, prolongando-se até aos dias de hoje, tendo como percursores não só os artistas das vanguardas, como também os poetas concretos dos meados dos anos 50. Foi André Breton que ajudou na divulgação da escrita automática à qual chamou de “pensamento falado”, entendendo-se este registo como uma tentativa de colocar por escrito os pensamentos não controlados pela lógica ou pela razão. Tinha como objectivo destruir as convenções da escrita tradicional.

Jackson Pollock, acreditava que o automatismo deveria ser regra fundamental de todo o processo criativo e a grande directriz de qualquer composição criativa. Dentro do conceito de “escrita automática” podem-se destacar três formas diferentes de ver este movimento literário, uma defendida pelos Dadaístas (defendiam um procedimentos de criação aleatórios que incorporavam um conjunto de processos caóticos e ao acaso), a defendida pelos Surrealistas (pretendia-se chegar ao inconsciente de cada individuo, daí se tentar libertar o sujeito das convenções e mecanismos a que está habituado) e uma mais espiritual (o escritor era visto como o medium que recebia as mensagens dos espíritos, e as passava inconscientemente para a escrita).

Em Portugal, destaca-se a Antologia organizada por Mário Cesariny de Vasconcelos, “Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito”, de 1961. A expressão “cadáver esquisito” diz respeito ao tipo de escrita automática que André Breton e Eluard definiram como um “jogo de papel dobrado que consiste em fazer compor uma frase ou um desenho por várias pessoas, sem que nenhuma delas se possa aperceber da colaboração ou das colaborações precedentes.”