30.10.10

A representação do corpo nos Media Digitais

O corpo sempre esteve presente na história da arte e desde a década de 1980, os estudos relacionados com o corpo têm sido cada vez mais explorados. As representações do corpo no meio artístico sempre revelaram preocupações teóricas e científicas que surgiram no discurso da arte, da ciência, da medicina, do desporto, da moda, da tecnologia ou da estética. As abordagens teóricas e sociológicas sobre o corpo acompanham de certa forma as mudanças sociais. Aspectos demográficos, como o controlo da natalidade, o aumento da esperança média de vida, a cultura de consumo e o progresso tecnológico, afectaram a forma de olhar, de sentir e de agir dos indivíduos sobre o corpo.

«Durante muito tempo a arte serviu à ciência ilustrando e ajudando a desvendar os segredos do corpo e do mundo. Hoje a ciência ilustra a si própria produzindo imagens muitas vezes sedutoras e atraentes, entrando no domínio de arte não por ser ilustração, pois a arte não o é, mas por pretender ir além da sua necessidade e função.» (Amorim, 2003: 17)

Anteriormente por si só inalterável, o corpo surge no mundo contemporâneo como projecto, identidade e narrativa, construído através da interacção do indivíduo subjectivo com aquilo que o rodeia, onde se define o seu eu social e cultural, versátil, flexível e manipulável.O corpo contemporâneo é exibido e consumido na nossa cultura como um objecto em constante transformação. Com o advento da tecnologia e com a invasão de novos esquemas abstractos, transformou-se em algo possível de programar.

Desde a Mona Lisa de Leonardo Da Vinci (1503-06) até Marcel Duchamp, em 1912, ter representado o corpo e o seu movimento no Nú descendo as Escadas, a arte ocidental revolucionou a representação do corpo de modo a ultrapassar as limitações do corpo físico, levando a cultura visual da representação do corpo a desenvolver-se sobre vários ícones, criando imagens do corpo perfeito, que só podem ser conhecidas enquanto representações visuais.

Falar do corpo na contemporaneidade é reflectir sobre um objecto reinventado por novas fronteiras e manifestações. Depois do século XX e das profundas transformações sócio-culturais, este século trouxe desenvolvimentos tecnológicos que geraram a desmaterialização do corpo. O corpo surge com uma ausência quase total da sua forma física inicial. Surgiram as próteses, a criação do cyborg, a clonagem, a engenharia genética, a biologia molecular. Todas estas questões lançaram uma série de questões em relação ao corpo, que deixou de ser um organismo fechado. Com o microchip, próteses e implantes bio-técnicos, foi permitido conhecer o corpo sem o invadir obtendo representações abstractas e virtuais. Com tudo isto, a diversidade de materiais, linguagens e produtos informáticos, juntamente com os novos dispositivos electrónicos, fizeram com que o corpo pudesse ser visto também como um complexo sistema de processamento de informação. A relação entre o corpo e a linguagem artística é definida não enquanto a reprodução da materialidade dos signos, mas como relação necessária à experiência do mundo.

A expansão do mundo visual através da imagética da fotografia, do cinema, da internet e do vídeo e o encontro com as novas tecnologias veio possibilitar que o indivíduo, na sociedade contemporânea, experimentasse novas experiências estéticas e um novo sistema de ligações, onde nada possui um significado único, mas múltiplo e flexível.